Paixão das antigas

 Paixão das antigas

Muito mais que um hobby, o antigomobilismo é uma viagem ao passado e reúne um número cada vez maior de adeptos no Brasil

Esqueça as velharias, latas velhas ou carroças. Nenhum desses sinônimos para carro velho se encaixa no antigomobilismo, termo criado para designar a arte da restauração e manutenção de veículos antigos e clássicos. Muito mais que um hobby, o antigomobilismo é uma paixão, uma viagem ao passado que agrega um número cada vez maior de adeptos no Brasil. Ao menos 25 mil veículos circulam com certificados de carro antigo no país, de acordo com números de 2018. 

Mesmo não sendo algo recente, uma vez que o primeiro clube de carro antigo no Brasil é de 1967, essa veneração aos automóveis de outros tempos tem ganhado ainda mais força, principalmente com a multiplicação de clubes, associações e encontros, que reúnem os antigomobilistas, verdadeiros zeladores desses clássicos em quatro rodas. Só no Brasil, são mais de 400 grupos de antigomobilismo. Afinal, qual a graça em ter um carrão antigo na garagem da família se não mostrá-lo por aí, de vez em quando, todo reluzente e bem conservado?

Ford Mustang conversível do advogado Antonio
Carlos Gabarra

Segundo os critérios da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA) e da Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA), antigomobilista é aquela pessoa que preserva ou contribui para a preservação dos veículos de modelos antigos e originais. São colecionadores de carros clássicos em geral, mas há também aqueles que optam por dar preferência a apenas uma marca ou um tipo de automóvel, por exemplo.

Essas pessoas dedicam-se ao carro todos os dias ou algumas vezes por semana, circulam com ele em datas e eventos especiais, e realizam a manutenção ou substituição das peças do veículo sempre que necessário, mantendo-o mais próximo possível do original.

Sentimento pelo automóvel

“A paixão por carros antigos é de diversos tipos, indo de veículos que estão na família desde zero quilômetro, há mais de 30 anos, até quem simplesmente goste de manter a história viva dos veículos e das marcas. Vivemos num mundo muito tecnológico, com excesso de informações e novidades. O antigomobilismo se tornou uma espécie de válvula de escape. Tanta modernidade é contraposta com saudosismo, e o bem antigo mais representativo e sentimental é o automóvel”, explica o presidente da Federação Paulista de Antigomobilismo (FPA), Thiago Beilstrein. 

Chevrolet C10

Fundada em agosto de 2018, a FPA foi formada com a ideia de coordenar as atividades dos clubes e equipes associadas, com um calendário de eventos e representatividade junto às autoridades federais, estaduais e municipais. “Os antigomobilistas no Brasil são pessoas que revivem a época em que aquele carro foi produzido. Seja no estilo de vida, preservando a história do carro, as cores, a originalidade, os passeios”, afirma Thiago.

Mas é preciso explicar que nem todo carro produzido há muitos anos pode se encaixar no termo de “veículo histórico”. “Carro antigo é um automóvel em condições originais, com seu valor histórico e sentimental definidos. Por outro lado, um veículo de poucos anos já pode ser velho, caso não seja bem cuidado”, explica.

Família e a paixão por carros

A paixão por carros antigos, em muitos casos, já está dentro do próprio círculo familiar. O advogado Antonio Carlos Gabarra, 79 anos, de Ribeirão Preto, conta que, além dele, outros irmãos colecionam clássicos em quatro rodas. 

Ford Cabriolet, do advogado Antonio Carlos Gabarra

“Somos em oito irmãos homens, além de um primo-irmão muito próximo, e, entre nós, quatro têm carros antigos. Contando, ao todo, devem ser uns 40 carros. Esse meu primo-irmão, Roberto Gabarra, por exemplo, só gosta de carros da Volkaswagen, tem a coleção completa, tudo na cor vermelha.”, explica. “É tudo louco”, brinca Antonio Carlos. 

O advogado ribeirão-pretano tem três carros em sua pequena e estimada coleção. O mais antigo é um Ford Galaxie, ano 1971, adquirido por ele um ano depois da fabricação e que ele mantém já por quase 50 anos. “É de cor branca, de teto preto. Adquiri não porque eu fazia coleção de carros, mas porque era o carro do meu dia a dia, das minhas viagens”, ressalta. Antonio Carlos preserva em sua garagem, ainda, um charmosíssimo Ford Cabriolet, ano 1931 e, em 2010, importou um Ford Mustang conversível, ano 1966. 

Os carros de coleção têm o direito de receber uma placa preta, atestando que ele está em ótimas condições e mantém sua originalidade. A placa preta é chamada de Placa de Veículos de Coleção e foi criada em 1998, mas não é tão fácil de ser solicitada, necessitando que o carro atenda a diversos requisitos antes de consegui-la, como estas a seguir:

• Ter mais de 30 anos de fabricação;

• Contar com as características originais preservadas. É necessário que, pelo menos, 70% de suas características originais estejam em bom estado de conservação;

• Integrar um clube de carros antigos é imprescindível. É importante escolher uma entidade credenciada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e filiada à Federação Brasileira dos Veículos Antigos (FBVA);

A obtenção de uma placa preta exige que você tenha um Certificado de Originalidade, documento oferecido pelo clube de carros antigos e necessário para registrar um veículo de coleção.

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