Um passado no presente
- Turismo
- julho de 2022
Minas Gerais reúne cidades que preservam a história do período colonial e do Ciclo do Ouro por meio de construções que nos transportam de volta ao tempo
Joias arquitetônicas que contam um pouco da história do Brasil, as cidades históricas mineiras foram palcos de inúmeros episódios marcantes do país, como o Ciclo do Ouro e revoluções como a Inconfidência Mineira. Isso é preservado e narrado pela arquitetura destas cidades, que contam com suntuosas igrejas, museus, ruas e demais construções históricas.
Com incrível conjunto cultural e histórico, elas revelam verdadeiras obras artísticas, com relíquias da arte barroca expressas pelas mãos de Aleijadinho e Ataíde. Aliás, Minas Gerais é o estado brasileiro com maior acervo barroco do Brasil, e algumas destas cidades, como Ouro Preto e Diamantina, são decretadas Patrimônio Cultural da Humanidade. O estado também tem forte influência religiosa, demonstrada não apenas por meio das igrejas – que desempenham um papel fundamental – mas também nas festas populares que atraem inúmeros turistas que acabam se encantando com suas belezas e hospitalidade.
Ouro Preto
Quando se fala em cidades históricas, Ouro Preto, talvez, seja a primeira referência que vem à mente. Há cerca de duas horas da capital, Belo Horizonte, ela foi a primeira cidade brasileira a ser decretada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO, em 1980. Também foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde 1938.
Andando por suas ladeiras, a cada sobe e desce, a cidade nos leva a uma viagem pelo túnel do tempo. Nenhuma outra cidade de Minas tem um leque tão grande de igrejas abertas à visitação, e sua importância vai muito além do caráter religioso, sendo grandes obras de arte e exemplares da arquitetura colonial. A cidade, no entanto, também reserva museus, mirantes e até antigas minas de ouro.
Praça Tiradentes: Coração de Ouro Preto, é a parte mais movimentada da cidade e um ótimo ponto de partida para começar seu roteiro turístico. Serve como um marco da Inconfidência Mineira, por ter sido o lugar em que a cabeça de Tiradentes, o grande mártir da Independência, foi exposta após o seu enforcamento, em 1792.
Seus arredores abrigam alguns pontos importantes da cidade, como o Museu da Inconfidência Mineira, o Museu da Ciência e Tecnologia e o monumento de Tiradentes. Hoje, a Praça Tiradentes também é palco de eventos da cidade.
Igrejas: Grande representante do estilo barroco brasileiro, a Basílica de Nossa Senhora do Pilar chama mesmo a atenção em nível de riqueza – material e de detalhes. Construída na primeira metade do século XVIII, para substituir a antiga capelinha em madeira e taipa, ganhou a reputação de templo oficial, por ser o local de cerimônias de posses de governadores e de cerimônias governamentais.
Sua decoração levou mais de vinte anos para ficar pronta, envolvendo a pintura, a telha e painéis. O que impressiona é seu interior, com os altares trabalhados em ouro e prata. Está entre as capelas com maior quantidade de ouro do Brasil: mais de 400 Kg. Esta igreja também abriga o Museu de arte Sacra de Ouro Preto.
Considerada a obra-prima de Aleijadinho e do barroco-rococó, a Igreja de São Francisco de Assis é uma das paradas obrigatórias de Ouro Preto. Foi um dos primeiros bens tombados da cidade e é classificada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa do mundo. Esta construção reúne os trabalhos dos dois maiores artistas da época, pois além de Aleijadinho, que assina o projeto arquitetônico, a fachada, os púlpitos e as esculturas no interior da igreja, Manoel Cláudio Ataíde, conhecido como Mestre Ataíde – grande mestre da pintura barroca –, ficou encarregado pelas imagens do teto. Outras igrejas que valem a visitação são a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Igreja Nossa Senhora do Carmo.
Museus e Minas de Ouro: Para entender mais da história da cidade, reserve um tempo para visitar seus museus. O Museu da Inconfidência é um testemunho histórico, social e político deste acontecimento, por meio de documentos, objetos, móveis e obras de arte da época.
O Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas/UFOPS tem foco na vocação mineradora de Ouro Preto, em como essa se desenvolveu sendo a principal atividade econômica da cidade. Para quem deseja explorar a arte sacra, as opções são o Museu do Aleijadinho, Museu do Oratório e Museu de Arte Sacra de Ouro Preto.
Visitar uma mina de ouro também é necessário para se aprofundar na antiga principal atividade econômica da cidade. Uma delas é a Minas do Palácio Velho, que, embora tenha sido aberta à visitação em 2016, foi um dos primeiros e mais produtivos núcleos de mineração de Minas Gerais no século XVIII. Outras minas que podem ser visitadas são a Mina do Chico Rei, Mina du Veloso, Mina de Santa Rita e Mina do Jeje.
A poucos quilômetros de São João Del Rei, é possível aproveitar algumas cachoeiras, sendo as mais conhecidas a Cachoeira do 14, do Bom Despacho e Reserva do Calaboca.
Tiradentes
O Centro Histórico da cidade, formado por ruas de pedras, concentra a maior parte dos atrativos de Tiradentes, e pode ser desbravado a pé e com calma. O Largo das Forras, praça principal, é parada obrigatória por lá, rodeado pelos principais pontos turísticos da cidade, e por bares, restaurantes e lojinhas de artesanato.
Pelo centro, você, ainda, pode conhecer o Chafariz de São José, construído em meados do século XVIII, para o fornecimento de água aos moradores. A construção, ainda bem preservada, assemelha-se às fachadas das igrejas barrocas. O Museu de Sant’Anna, onde funcionava a cadeia antiga da cidade, tem em seu acervo objetos que retratam a vida da colônia, como móveis e santos, além de cerca de 300 imagens de santas produzidas entre os séculos XVII a XIX. Um dos prédios mais imponentes é o Museu Padre Toledo, onde viveu o inconfidente Padre Toledo, e que hoje mantém uma mostra de documentos, pinturas e obras sacras. Ainda no centro histórico, o Museu da Liturgia é composto por mais de 420 peças sacras dos séculos XII a XX. O acervo, completamente restaurado, apresenta pinturas, esculturas, imagens de santos, crucifixos, cruzes processionais, arcas e outros objetos religiosos confeccionados com uma diversidade de técnicas e materiais.
Igrejas: A principal igreja de Tiradentes, a Igreja Matriz de Santo Antônio, é o cartão-postal da cidade. A construção, que data do século XIII, passa por uma reforma no século seguinte, contando com a colaboração de Aleijadinho, que ficou responsável pelas alterações da fachada e pelas esculturas da portaria. A igreja tem seu interior rico em detalhes em ouro, e posicionada no alto de uma colina, ela descortina uma vista para a cidade e da Serra de São José. Aos finais de semana, acontecem o Show de Luzes e o espetáculo do Concerto de Órgão.
Outro destaque vai para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, considerada uma das mais antigas de Tiradentes. Ela foi construída no início do século XVIII pelos negros escravos para a realização de seus próprios cultos. No centro, também é possível visitar a Igreja da Santíssima Trindade, a Capela de São Francisco de Paula – de onde é possível apreciar um lindo pôr do sol –, a Capela de São João Evangelista, entre outras.
Diamantina
Há 300 Km de Belo Horizonte, está Diamantina, cidade que é ponto de partida para a Estrada Real, que serviu de rota para o ouro e pedras preciosas exploradas no estado. Construída no século XVIII, a cidade é batizada assim por estar em uma região que era abundante em diamante, e, desde 1999, é Patrimônio Cultural pela UNESCO.
O município recebe cerca de três milhões de turistas todos os anos, e, juntamente a seus tesouros arquitetônicos, divide espaço com belezas naturais, como cachoeiras, a curta distância do centro histórico. No centro, a Rua da Quitanda é uma das mais movimentadas da cidade, com locais e turistas. Ela é contornada por casas centenárias, concentra bares e restaurantes – sendo um ótimo point noturno -, e ainda, recebe alguns eventos anualmente, como é o caso do Concerto da Vesperatta. Nesta ocasião, músicos bem trajados tocam músicas das varandas das casas para o público que assiste nas ruas.
A Casa da Glória, conhecida por Passadiço, é um dos maiores símbolos da cidade. Trata-se de uma construção colonial constituída por dois casarões que são interligados por um belo passadiço de madeira. De educandário e orfanato, hoje, os dois prédios restaurados abrigam o Instituto de Geociências da UFMG e são abertos à visitação, expondo objetos de época, mobiliários e obras de arte sacra, além de peças ligadas ao estudo da geociência.
Entre as igrejas, destacam-se a Igreja São Francisco de Assis, construção barroca com elementos rococó, e que permite subir até a torre dos sinos para uma vista privilegiada; e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, cuja construção data da segunda metade do século XVIII e possui um belíssimo interior, marcado por belas pinturas no forro, com algumas obras de Aleijadinho. O órgão da igreja ainda está em funcionamento e, de vez em quando, é tocado por músicos.
Visitando o passado: Um dos principais locais de preservação à memória de Diamantina, o Museu do Diamante tem um acervo que retrata, por meio de objetos de época e mobiliário, a caça aos diamantes na região em outros tempos. A Casa de Chica da Silva serviu de moradia para esta personagem ilustre de Diamantina, escrava alforriada que adquiriu status e projeção social. Outro museu que já foi casa de uma figura marcante é a Casa JK, onde o ex-presidente Juscelino Kubitschek viveu durante a infância e adolescência.
Belezas naturais: Fora do circuito histórico de Diamantina, é possível também apreciar a natureza abençoada. A apenas 3 Km do centro, o Parque Estadual do Biribiri é uma área composta por cerrado, matas de galeria e campos rupestres. Abriga trilhas, poços e lindas cachoeiras cujas quedas d’água proporcionam piscinas de águas naturais, com destaque para a Cachoeira da Sentinela e a Cachoeira dos Cristais.
Vale emendar o passeio com a Vila do Biribiri, pequena comunidade em que as casas serviam de moradia para uma antiga fábrica de tecidos e que hoje recebe turistas em busca de contato com a natureza, banho de rio e comida mineira de roça.
A Gruta de Salitre, há 9 Km do núcleo urbano, é um conjunto monumental de rochas de quartzo que revela uma bela paisagem. Foi região de intenso extrativismo mineral de salitre para a produção de pólvora. O local já serviu de cenário para filmagens de produções audiovisuais.
São João Del Rei
São João Del Rei fica bem próxima a Tiradentes, sendo uma das maneiras mais populares de se chegar até ela um passeio de Maria Fumaça que liga as duas cidades. Povoada no início do século XVIII, com a descoberta de minas de ouro e de metais preciosos, o município chegou a ser um dos mais ricos do estado. Seus traços coloniais permanecem até hoje, com os principais pontos turísticos remetendo a este período.
A principal atração de São João Del Rei, como não poderia deixar de ser, é uma igreja. A Igreja de São Francisco de Assis, que fica de frente para uma praça com palmeiras imperiais, data da segunda metade do século XVIII e foi projetada por Aleijadinho. Sua portada é esculpida em pedra-sabão e o interior é em estilo rococó, marcado pela capela-mor, com a composição em relevo da Santíssima Trindade, seis altares nave, os púlpitos e um gigantesco lustre de cristal Bacarat. No cemitério da igreja, encontra-se o túmulo do ex-presidente Tancredo Neves. Outra igreja de destaque é a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, onde chama a atenção a capela-mor, o intenso dourado do interior e a linda pintura do forro.
Construções históricas e memórias do passado: Na Rua Getúlio Vargas, a atenção vai para os casarões e construções históricas, como o Solar dos Neves, antiga residência da família de Tancredo Neves, e o edifício onde hoje funciona o Museu de Arte Sacra. Para entender mais da vivência dos mineiros nos séculos XVIII e XIX, o Museu Regional de São João Del Rei conta com uma exposição permanente. O acervo do Museu Ferroviário conta a história do desenvolvimento da cidade com o meio de transporte, por meio de documentos, equipamentos, vagões e até da primeira locomotiva a fazer o trajeto da Estrada de Ferro Oeste de Minas.
O Memorial Tancredo Neves é para quem se interessa em saber um pouco mais da vida pessoal e trajetória política do ex-presidente e de sua família, uma das mais ricas e famosas da cidade.
A Rua das Casas Tortas, nome popular da Rua Santo Antônio, é um bom lugar para as fotos de recordação, reunindo casas antigas de janelas e portas coloridas, cujas paredes não seguem uma linearidade e parecem estar “pendendo”. Este era o antigo caminho dos bandeirantes.