O Poder da barra
- Bem-estar
- setembro de 2022
Praticado há mais de 250 anos, o pole dance ganhou o coração de milhões de pessoas ao redor do mundo e se tornou uma modalidade esportiva
Embora seja praticado há mais de 250 anos, o pole dance teve uma popularização significativa nas últimas décadas, pois começou a ser entendido enquanto uma modalidade esportiva, desprendendo-se da relação com os clubes de striptease. Com o desenvolvimento da prática como um esporte, diferentes categorias dentro da própria dança foram criadas e passaram a ser experimentadas por diversas pessoas ao redor do mundo.
“Utilizando uma barra vertical (estática e/ou giratória) de metal polido, o pole dance é a junção de movimentos acrobáticos de força, característicos da calistenia e da ginástica, com movimentos de dança. Ele teve origem nas boates de stripper, mas recebeu várias influências”, explica Celiana Freitas, instrutora de pole dance e empresária.
A atividade física treina membros inferiores e superiores, abdômen e coluna ao utilizar apenas a força do corpo como resistência — seja com ou sem apoio da barra. Os movimentos podem ser estáticos ou giratórios, aproveitando-se de práticas da ginástica olímpica, do balé, da dança contemporânea e dos movimentos livres.
Devido às práticas de musculatura e ginástica, o pole dance traz uma série de vantagens para a saúde física e mental. Freitas destaca sobre a prática: “Pole dance vai muito além dos benefícios físicos, que seria o ganho de força muscular. Também auxilia na melhora de flexibilidade e coordenação motora, aumenta a consciência corporal, melhora a relação com o corpo e aumenta a autoconfiança e autoestima.”
De onde veio o Pole Dance?
O pole dance é uma prática antiga, mas ganhou a atenção internacional por meio dos clubes de striptease que tinham a presença de dançarinas na barra. No entanto, informações relatam que essa arte começou a ser praticada por ginastas homens circenses em postes de madeira. Ao longo do tempo, o material da barra mudou para algumas modalidades, com a barra de metal sendo a escolhida para a dança.
Segundo Freitas, a prática teve influência do Mallakhamb (Índia), que é uma atividade que “consiste em executar movimentos de equilíbrio, flexibilidade e força em um poste vertical de madeira ou em cordas”. Teve, ainda, referências do Mastro Chinês (China), que traz uma barra, mais semelhante a do pole, com um ferro “forrado com material antiderrapante, que possui entre 3 e 7 metros de altura”. E essa prática ficou “popular no ocidente através das performances do Circo Imperial da China”.
Foram principalmente as dançarinas burlescas, porém, que influenciaram o pole dance devido a sua sensualidade e a suas coreografias na barra. “A dança tem influência dos EUA com hoochie coochie e arte do burlesco. E foi uma stripper, Fawnia Mondey, nos anos 1990, que produziu a primeira aula de pole gravada em DVD, divulgando a modalidade como forma de condicionamento físico”, conta Freitas sobre o início da popularização da prática.
Gradualmente, a dança passou a ser entendida como uma modalidade esportiva, desprendendo-se da ideia relacionada aos clubes de striptease. Contudo, ainda há muito a ser desconstruído para que a prática seja cada vez mais respeitada e abraçada por pessoas ao redor do mundo.
Freitas fala: “Acredito que há muito trabalho em relação à conscientização de que pole dance é uma prática esportiva e não um mero fetiche masculino. Mas, também, vejo cada vez mais mulheres, que buscam se conectar com sua energia feminina e com seu amor-próprio, usando o pole dance como ferramenta. Isso me dá muita força para continuar fazendo o que faço, porque é com essas mulheres, pela transformação dessas mulheres, que eu levanto a bandeira de que o pole dance pode ser a cura para muitas de nós.”
Em 2021, a Netflix lançou o documentário “Pole Dance: Dança do Poder”, dirigido por Michèle Ohayon, e criado por uma equipe formada por mulheres. O filme documental acompanha as alunas da academia The S-Factor, da famosa professora Sheila Kelley.
Combinando cenas de aulas, depoimentos das alunas e da própria Sheila Kelley, o documentário traz uma profunda reflexão sobre a relação das mulheres com o corpo, apontando os benefícios da modalidade. Ainda, visa desconectar a ideia de que o pole dance é uma prática exclusiva de clubes de striptease.
Pole dance e autoestima
Além dos diversos benefícios à saúde física, o pole dance também pode ser um grandioso aliado para autoestima e amor-próprio, ajudando os praticantes, principalmente as mulheres, em relação às inseguranças pessoais.
“A autoestima da mulher está intimamente ligada ao que ela faz por si mesma, quando quebra padrões internos e externos, e resolve se permitir. O pole dance é uma ferramenta muito potente nesse processo. Lá, a mulher encara desafios, supera medos e crenças, além de reconhecer sua potência e seu valor. É lindo ver a transformação e a aceitação que elas têm de si mesmas”, fala a profissional.
Segundo Freitas, não há contraindicação para a prática, e pessoas de todas as idades e de todas as formas podem aderir à modalidade, basta “apenas ter vontade”. “Para praticar pole dance, você precisa apenas da barra, e a roupa que usamos é sempre top e shortinho mais curto. Vale ressaltar que o uso de roupa curta não deve ser visto de forma vulgar, pois é justamente o atrito da pele com a barra que faz com que a gente trave na barra”, alerta a instrutora.
Ela conclui: “E para quem tem muita vontade de começar a praticar, mas por algum motivo ainda hesita, digo uma coisa: estamos nessa vida para ser feliz. Se você será feliz praticando pole dance, se te trará benefícios, deixe a opinião do outro de lado. Se joga!”
Celiana Freitas (@celipoledance) é instrutora de pole dance e empresária. A profissional pratica a modalidade desde 2016, iniciando sua carreira enquanto professora, em 2019, no studio em que frequentava. Devido à pandemia, passou a dar aulas particulares em casa por ter uma barra na própria residência. Por conta da demanda, abriu o próprio studio (lotustudiopoledance). “Sou completamente apaixonada pelo pole dance e por esse lugar que criei”, conta.