Olha a Trend!

 Olha a Trend!

O crescimento internacional do TikTok e a viralização de músicas na plataforma fez com que a rede social ganhasse uma relevância significativa para a Indústria Musical

O avanço tecnológico impactou toda a humanidade e, consequentemente, as manifestações artísticas. Não seria diferente para a indústria fonográfica e a música, que foi sempre um produto cultural internacionalmente consumido. Em meio à crescente da internet, as plataformas de streamings e redes sociais fortaleceram esse cenário nos ambientes virtuais, garantindo trocas interpessoais e consumo em um nível não alcançado anteriormente. 

“A indústria cultural é feita de símbolos culturais e midiáticos que, por muitos anos, foram disseminados pela televisão: performance, videoclipe, roupas. Com a revolução trazida pela internet, abriu-se um novo espaço para a disseminação desses símbolos, desta vez com uma participação maior do usuário,” explica Flávio Maia, jornalista e pesquisador de música digital. 

Crescimento do TikTok

Plataforma controlada pela empresa chinesa ByteDance desde 2017, o TikTok é uma rede social completamente curiosa, a qual teve um domínio poderoso de assinantes em um rápido período. Cada vez mais, relatórios e pesquisas mostram a relevância da rede social, como os dois bilhões de downloads apenas no primeiro trimestre de 2020, conforme pesquisa da plataforma Oberlo. 

Jovem Dionísio

Em todo o mundo, o aplicativo alcançou um 1,5 bilhão de usuários ativos no último ano. No Brasil, existem cerca de sete milhões de brasileiros acessando a plataforma diariamente por, em média, 60 minutos, segundo a Oberlo. Os relatórios também explicitam que os assinantes têm entre 16 e 24 anos e, deste número, 68% preferem assistir aos conteúdos de outras pessoas. 

O jornalista e pesquisador diz: “No TikTok, há muito da música pop, que passa a ser ressignificada por meio das viralizações e dos desafios. A plataforma também é um novo espaço para a divulgação e produção de conteúdo sobre livros, filmes, séries e até estilo de vida”.

Os dados não só colocam o TikTok como um espaço de criatividade grandioso para a divulgação das músicas. Esses relatórios também apresentam como a rede social afeta o modo de consumo de canções na atualidade, tornando-se a principal referência de muitos assinantes na hora de encontrar canções novas.

“nada contra [ciúme]”  (Clarissa)

“Pontos de Exclamação” (Jovem Dionísio)

“Por Supuesto” 
(Marina Sena) 

“Se tá solteira” 
(FBC, Vhoor, Mac Júlia)

“Vai pegar nunca”
(Mc Th & GORDÃO DO PC & Mc Laranjinha)

“Galopa”
(Pedro Sampaio)

“Toma Toma Vapo Vapo”  (Zé Felipe e Mc Danny)

Como o TikTok impacta a Indústria Musical?

Para seus vídeos divertidos — que, agora, têm minutagem permitida de até 3 minutos —, os assinantes exploram uma trilha sonora. Os “desafios” (“challenges”), as coreografias e as variadas opções de estilos de vídeos ganham novos significados a partir da música de fundo e, dependendo da audiência, a canção “viraliza” na rede social, tornando-se uma trend, isto é, “tendência”. 

“A divulgação orgânica se dá muito pela espontaneidade que gera viralização, seja por um conteúdo de desafio ou qualquer outro que insira música nele. A música se torna uma ferramenta essencial na produção de conteúdo no TikTok; os artistas e as grandes empresas/gravadoras já entenderam isso”, comenta o pesquisador. 

Ber Pasquali, vocalista da banda brasileira Jovem Dionísio, conta sobre a experiência do grupo após a faixa “Pontos de Exclamação” virar uma tendência na plataforma: “Era uma trend que fazia as pessoas usarem a música e que isso influenciava no YouTube, no Spotify, no Deezer, e vimos que essas coisas estavam entrelaçadas no fim das contas”.

Marina Sena

A alta popularidade dos vídeos potencializa o crescimento dos números da própria música, seja um recente lançamento ou não. Casos famosos na rede social são Olivia Rodrigo com as faixas do disco de estreia, “Sour” (2021), e o Simple Plan com o hit de 2002, “I’m Just a Kid” devido a um desafio, que levava o mesmo nome. 

“O TikTok tem uma força orgânica muito diferente do que qualquer outra coisa que a gente já teve, nem se compara à rádio. [O TikTok] Às vezes, envolve dança [ou] envolve você fazer um vídeo de um jeito engraçado. Por isso, acho o TikTok um lance muito maneiro, mas ele também é difícil de decifrar,” fala Pasquali.

Maia acredita ser impossível definir como será a recepção das canções na plataforma: “Gostaria de enfatizar [sobre] as viralizações da plataforma com músicas aleatórias. Não dá para saber o que vai ser sucesso hoje dentro do TikTok. Ultimamente, músicas diversas da cultura pop estão sendo revividas e consumidas na plataforma: ‘Material Girl’, da Madonna, ‘Everybody’, dos BackStreet Boys, e ‘Say It Right’, da Nelly Furtado, ganharam atenção por meio de vídeos feitos por usuários e que rapidamente viralizaram”.

O pesquisador ressalta a aleatoriedade com o exemplo da música de Nelly Furtado, que “viralizou a partir de um vídeo de um rapaz dançando no banheiro, o americano Jamie Big Sorrel Hor.” “A partir dessas viralizações, cabe ao artista saber o que fazer com o sucesso repentino, que pode gerar lucros, mas sumir rapidamente como qualquer conteúdo na internet,” completa.

O consumo de música muda, especialmente, por conta daquelas canções “consideradas antigas e que ninguém mais ouve”, aponta Maia. Pasquali complementa: “O TikTok está mudando o jeito da galera fazer música. Não só de consumir, mas também de fazer, porque a música ganhou um novo mote.”

“Antes tinha vários motivos para você criar uma música e tinha vários motivos do porquê você ouvir uma música. Com o TikTok, ganhamos um motivo novo, que é fazer uma trend que todo mundo também sabe fazer. O TikTok trouxe um lugar novo para a música, um jeito novo de consumir música,” analisa o vocalista da Jovem Dionísio.

E como ficam os lançamentos?

Ao refletir sobre a divulgação na rede social, o pesquisador fala: “Acredito que o TikTok, para artistas, é uma complementação. Ele também precisa estar ali, principalmente se quiser atingir a geração mais nova”. 

“Como parte da divulgação de um novo single, o artista precisa criar um desafio ou coreografia para ser facilmente disseminado pela rede social, a ideia é que os usuários participem da música recriando os passos e isso cria uma grande rede de divulgação “gratuita”. A indústria musical tende a perder muito se não aceitar a plataforma como um novo meio de comunicação,” conclui Maia. 

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