Bossa Nova
- Música
- fevereiro de 2022
Versos de temas cotidianos entonados por uma voz suave, com harmonia de samba e invenções melódicas do jazz, caracterizam este estilo de DNA brasileiro
Estilo musical que levou a brasilidade para o mundo, a bossa nova une um “quê” de samba, genuinamente brasileiro, com influências do importado jazz americano. Pode ser até um pouco complexo de ser explicado, mas basta ouvir seu maior fruto, “Garota de Ipanema”, para sentir o que é bossa.
Na década de 1950, em meio a um contexto social em que o Brasil passava por um período de grande modernidade e intensa industrialização, as novidades fervilhavam no Rio de Janeiro, uma vez que, na época, era a capital do país, e foi neste cenário que a bossa nova se desenvolveu, por meio de jovens músicos da classe média na cidade carioca, que estavam entusiasmados com o período de transformações e em busca de um estilo de música que refletisse isso. Podemos até nos arriscar a dizer que talvez tenha sido a bossa nova a verdadeira grande culpada de promover o Brasil mundo afora sob a roupagem do Rio de Janeiro.
As letras poéticas de Vinicius de Moraes, com a complexidade dos acordes de Tom Jobim e o jeito falado de cantar, em voz baixa, de João Gilberto deu bossa. Aqui temos a santíssima trindade do estilo. Prova disso é que o disco “Chega de Saudade”, álbum de estreia de João – no ano de 1959 –, traz a música-título, uma colaboração entre os três músicos, que é considerada o marco da bossa nova.
Em 1962, uma música em específico, também de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, dá ainda mais força ao estilo musical: “Garota de Ipanema”. A música chegou a ficar 96 semanas na segunda posição do Top 100 da Billboard, competindo pelo topo com A Hard Day’s Night, dos Beatles, e até chegou a ser regravada em inglês por Frank Sinatra.
Alguns dos outros grandes nomes desta cena musical são os de Nara Leão, Carlos Lyra, Elizabeth Cardoso e Edu Lobo. Nara Leão era, inclusive, considerada a musa da bossa nova, e seu nome está diretamente ligado ao surgimento do estilo, pois no apartamento de seus pais, em Copacabana, aconteciam as reuniões em que alguns dos grandes representantes do gênero participavam, como João Gilberto, Roberto Menescal e Carlos Lyra, o que foi decisivo para a “formatação” da bossa nova.
•Chega de Saudade – João Gilberto
• Wave – Tom Jobim
• O Barquinho – Nara Leão
•Águas de Março – Tom Jobim
•Garota de Ipanema – Tom Jobim e Vinicius de Moraes
•Samba de Uma Nota Só – Nara Leão
•Pela Luz dos Olhos Teus – Miúcha e Tom Jobim
•Coisa Mais Linda – Carlos Lyra
• Desafinado – João Gilberto
Aperte o play: discos indispensáveis da bossa nova
Nara (Nara Leão): primeiro disco de carreira da cantora, no qual é possível notar como Nara flertava musicalmente em duas vertentes – por um lado, canções de Vinicius de Moraes, Baden Powell e Carlos Lyra mostram o porquê de ser um nome forte da bossa nova, enquanto que, por outro, melodias de autores como Cartola, Nelson do Cavaquinho e Zé Kéti demonstram que ela atuava, também, com a influência e resgate do samba em seu trabalho.
Chega de Saudade (João Gilberto): álbum de estreia do cantor e compositor, lançado em 1959. A música-título, composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, nasceu no ano anterior e marcou o início da bossa nova. O trabalho, além de lançar João Gilberto e sua carreira musical para o Brasil, consolidou o novo estilo que surgia, marcado pelo canto suave e acordes pouco convencionais.
The Composer of “Desafinado”, Plays (Tom Jobim): já consagrado como compositor, Tom Jobim foi convidado em 1963 pela gravadora estadunidense de jazz Verve Records para fazer o próprio disco. Este foi o primeiro trabalho do artista nos Estados Unidos, quando a bossa nova estava no ápice, com músicas como “Garota de Ipanema” e “Dasafinado”. O álbum conta com as músicas mais conhecidas de Tom Jobim à época, como “Chega de Saudade”, “Insensatez”, “Água de Beber” e “Corcovado”, e foi incluído no Hall da Fama do Grammy Latino em 2001.
Getz/Gilberto (Stan Geltz e João Gilberto): mais uma ideia da gravadora Verve, desta vez unindo dois ícones da bossa nova, João Gilberto e Tom Jobim, e o saxofonista norte-americano de jazz Stan Getz. O disco foi um sucesso e projetou o estilo musical brasileiro para o mundo, tornando-se um dos discos de “jazz” mais vendidos da história e o primeiro a ganhar o Grammy de Melhor Disco do Ano, em 1965.
O disco trouxe a versão “The Girl From Ipanema”, com versos em inglês entonados por Astrud Gilberto, esposa de João.
O Dia Nacional da Bossa Nova é celebrado em 25 de janeiro, data de aniversário de Tom Jobim;
Tom Jobim foi considerado o maior expoente de todos os tempos da música brasileira pela revista Rolling Stone.
“Garota de Ipanema” é, possivelmente, a segunda música mais executada do mundo, atrás apenas de “Yesterday”, dos Beatles, de 1965. De acordo com a editora do grupo Universal, que comercializa a música, há mais de 1,5 mil produtos (CDs, DVDs, LPs) com ela. É impossível deduzir o número exato de interpretações, mas deve ultrapassar de 500, com versões até em finlandês e estoniano;
A série “Coisa Mais Linda” (2019), da Netflix, retrata o Rio de Janeiro da década de 50, sendo a bossa nova um aspecto fundamental da mesma. Na trama, a paulistana Malu, recém-chegada ao Rio de Janeiro, após levar um golpe do namorado, conhece a cantora Adélia e a escritora Thereza, decidindo abrir um clube noturno de bossa nova.