Baseado em Fatos Reais
- Nas telas
- maio de 2022
As histórias baseadas em crimes reais ganharam muitas adaptações, especialmente com a chegada dos streamings
Ao longo dos últimos anos, as produções audiovisuais apostaram em trazer, às telas, histórias baseadas em crimes reais. Diferente das ficções, esse modelo “true crime” (“crimes reais”, em tradução livre) busca expor, detalhar e investigar casos criminosos — e esse estilo de não ficção cresce, cada vez mais, entre as preferências dos espectadores, tornando-se grandes prioridades de investimento dos streamings.
Além dos temas mais complexos e carregados de atrocidades, as obras apresentam, muitas vezes, crimes hediondos e finais lamentáveis. Mesmo assim, o público passou a consumir e se interessar significativamente por esse tipo de conteúdo audiovisual. Dados do Google Trends, por exemplo, mostram que as buscas internacionais por “true crime” triplicaram entre fevereiro de 2017 e de 2022.
No Brasil, os holofotes a essas produções aumentaram principalmente em outubro de 2021 devido aos filmes baseados no Caso Richthofen, “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino Que Matou Meus Pais”, do Amazon Prime Video. Enquanto isso, nos últimos cinco anos, as buscas por “Crimes reais Netflix” aumentou 1.500%, chegando ao pico em julho de 2021, apenas um mês após a estreia de “Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime”.
Por conta do consumo crescente e da busca do público, os “true crimes”, os quais já eram muito produzidos, ganharam uma nova gama de documentários, filmes, livros, podcasts, entre outros tipos de obras. Em seus mais diversos formatos, com destaque às produções documentais, os títulos buscam estudar e investigar casos e crimes que aconteceram ao redor do mundo.
Como são os documentários sobre crimes reais?
Em grande maioria, o conteúdo das obras em formato de documentário é com um viés jornalístico, trazendo entrevistas, áudios de processos, gravações realizadas em tribunais, cobertura de imprensa dos crimes, imagens atuais e/ou antigas, entre outros materiais importantes para compor a investigação/análises. Ainda, outra característica desse tipo de produção é dar espaço para que criminosos e acusados tenham voz e exponham suas versões.
Nas produções, o crime mais retratado é o de assassinato, com assassinos em série sendo os principais focos de grande parte dos títulos. Já as temáticas são bastante diversas, com análises dos criminosos, desenrolar e investigação dos casos, explicações sobre comportamento, abordagens dos criminosos, entre outras, sendo os motores de condução da narrativa.
• Making a Murderer
• Dear Zachary: Um Caso Chocante
• Amanda Knox
• The Central Park Five
• Cropsey
• Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil
• The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst
• Conversando com um serial killer: Ted Bundy
• The Keepers
• A Mente de Um Monstro: Jeffrey Dahmer, o Canibal
• Aileen: Vida e Morte de uma Serial Killer
• Wild Wild Country
Os melhores documentários sobre crimes reais
The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst: Em meio às suas seis partes, este documentário investiga, em detalhes, a vida de Robert Durst, um homem rico envolvido no desaparecimento da mulher, no assassinato de um amigo da família e na morte de um vizinho. Curiosamente, Andrew Jarecki foi procurado pelo próprio Durst para expor a versão dele da história. Os seis episódios estão disponíveis na HBO Max.
Conversando com um serial killer: Ted Bundy: Um dos mais conhecidos assassinos em série de todos os tempos, Ted Bundy é o responsável por alguns dos mais terríveis assassinatos estadunidenses e por matar mais de 30 mulheres. A partir de gravações verdadeiras, esse documentário é dividido em quatro partes para se aprofundar na vida do infame assassino com entrevistas exclusivas dadas pelo próprio “protagonista” enquanto esperava sua execução no corredor da morte. A série está disponível na Netflix.
The Keepers: Indicada ao Emmy de Melhor Série Documental, a produção investiga o homicídio da freira Catherine Cesnik, desaparecida em 1969, além de expor uma série de crimes que envolviam a Igreja e que aconteceram na cidade de Baltimore, nos Estados Unidos. O assassinato continua sem respostas. Os episódios do documentário estão disponíveis na Netflix.
A Mente de Um Monstro: Jeffrey Dahmer, o Canibal: Narrado pelas palavras do próprio Jeffrey Dahmer, o documentário esmiúça novas ideias sobre o que levou Dahmer, conhecido como Canibal de Milwaukee, a estuprar, matar e desmembrar 17 jovens entre 1978 e 1991. Transcrições das gravações em áudio das extensas entrevistas policiais após a prisão, imagens de vídeos caseiros da infância, revelações perturbadoras, uma entrevista com o pai do criminoso, Lionel Dahmer, e mais compõem esse complexo documentário, disponível no Prime Video e na Apple TV+.
Aileen: Vida e Morte de uma Serial Killer: Prostituta de estrada, Aileen Carol Wuornos foi executada em 2002, no estado de Flórida, por matar sete homens ao longo de um ano. Ela confessou os crimes, embora tenha alegado legítima defesa, pois suas vítimas, segundo ela, estavam prestes a agredi-la ou sodomizá-la. Assim como sugere o título, o documentário perpassa por toda a história de Wuornos.
Wild Wild Country: Dividida em seis partes, a obra apresenta a história do guru Osho e de Ma Anand Sheela, quando os dois envenenaram uma vila inteira. Wild Wild Country analisa o líder polêmico, que constrói uma cidade utópica no deserto de Oregon, nos Estados Unidos, após sair da Índia. Disponível na Netflix, o documentário faz o espectador mergulhar em todas as facetas da história.
Sobre o interesse constante (e crescente) por documentários sobre crimes reais, a psicóloga Marina G. Barbuto reflete: “Vivemos em uma sociedade que pede constantemente por fortes emoções e que realmente impactam. Muitos desses ‘criminosos’ transformaram-se em ‘celebridades’ fazendo o público acompanhar dia a dia até o desfecho do caso.”
Segundo explica a psicóloga, uma das causas de tamanho consumo é a curiosidade em compreender quais são os motivos de uma pessoa ao cometer tamanha crueldade. Ela explica: “Esse tipo de questionamento nos provoca, incomoda e gera angústia, fazendo com que a procura por documentários sobre crimes reais se torne, cada vez mais, relevante. Além disso, a maioria das pessoas está sempre em busca de explicações e respostas, e são instintivamente atraídas por histórias em que podem se identificar com a vítima, e conhecer dicas e estratégias para derrotar os vilões”.
“Está em nossa natureza estar altamente sintonizado com delitos criminais e, instintivamente, querermos descobrir o ‘quem’, ‘o quê’, ‘quando’ e ‘onde’ para que possamos descobrir o que faz os criminosos funcionarem e para melhor nos protegermos e protegermos nossos parentes,” conclui.