Uma Ribeirão de cerveja

Da lendária Choperia Pinguim às modernas cervejarias artesanais, a cidade mantém a tradição de ser uma fonte inesgotável da melhor cerveja do interior paulista

Os motivos que fazem Ribeirão Preto ser um dos destaques do país na produção de cerveja e de chope são vários. Da necessidade de se refrescar das altas temperaturas que atingem a região o ano inteiro até o fato da cidade ser abastecida pelo Aquífero Guarani, uma das mais importantes reservas subterrâneas de água doce do planeta, o resultado é que, desde o começo do século XX, a cidade marca seu nome como a grande produtora cervejeira do interior de São Paulo, algo que tem se intensificado nos últimos anos.

Ao se pensar em diversão em Ribeirão Preto, logo vem a vontade de buscar alguma das inúmeras cervejarias artesanais espalhadas pela cidade, das mais antigas àquelas surgidas nesse século e que mantiveram em alta a reputação da “Terra do Chope”. Nomes como a Choperia Pinguim e a Cervejaria Colorado estão na cabeça e no coração dos bebedores de cerveja em todo o Brasil.  As cervejarias da cidade produzem, atualmente, cerca de 130 rótulos de cerveja, com uma enorme variedade de estilos. Em 2021, a plataforma especializada em viagens Booking.com apontou Ribeirão como um dos destinos preferidos do planeta quando o assunto é cerveja de qualidade.

Das pequenas produções à terra do chope

O começo da relação entre Ribeirão Preto e as cervejarias se deu há cerca de 150 anos. Foram os recém-chegados imigrantes europeus, atraídos pela farta quantidade de terra para o plantio do café e pela ferrovia da Companhia Mogiana, que iniciaram as produções de cerveja no esquema fundo de quintal e para consumo próprio.

O italiano Pedro Giachetto é considerado o primeiro cervejeiro da cidade, com uma fábrica aberta em 1880, e foi logo acompanhado por outros novos produtores. Pequenas cervejarias, como A Rapaziada e Livi & Bertoldi, além de outros nomes esquecidos com o tempo, também começaram a dar vasão a essa produção.

Mas o salto de qualidade aconteceu de fato na década de 1910. Inicialmente com a instalação da primeira filial da Companhia Antarctica Paulista do país fora da cidade de São Paulo e, poucos anos depois, com a concorrente Companhia Cervejaria

Paulista, o processo de industrialização pela qual passava a cerveja em Ribeirão Preto era firmado, algo oposto aos produtores artesanais de alguns anos antes.

Nesse período, a cidade experimentou um desenvolvimento econômico e cultural a olhos vistos, como é o caso do Quarteirão Paulista, tombado como patrimônio cultural. Por lá está um marco na cultura cervejeira da cidade: a Choperia Pinguim. Inaugurada na década de 1930, a choperia está envolta em lendas, como a de que um aqueduto levaria chope canalizado da Antarctica diretamente para o balcão do estabelecimento. A Pinguim carrega, ainda, a fama de servir o melhor chope do Brasil e sempre a uma temperatura de 4°C.  O salão é decorado de acordo com a moda dos antigos botequins, e, na matriz do bar, chegam a ser servidas 180 tulipas por hora.

A volta ao sabor artesanal

As grandes cervejarias industriais de Ribeirão Preto trabalharam a todo vapor até a década de 1990, com uma produção de cerca de 200 milhões de litros anuais. Porém, a transformação da Antarctica em Ambev no começo do ano 2000, fez a produção ser encerrada e transferida para Jaguariúna (SP).

Entretanto, nos anos seguintes, haveria um retorno ao conceito das cervejarias artesanais. A mais importante para essa nova geração de cervejeiros é a Cervejaria Colorado, a primeira da cidade no estilo brewpub, no qual o próprio estabelecimento produz a bebida que serve. A Colorado apostava em cervejas no estilo Indian Pale Ale (IPA), que tem alto teor alcoólico, sabor amargo e em ingredientes inusitados.

Em busca de um fortalecimento desse segmento no mercado, as cervejarias artesanais de Ribeirão Preto e região se uniram, em 2015, e criaram o Polo Cervejeiro. Atualmente fazem parte do grupo 14 nomes: Invicta, Walfanger, Lund, SP 330, Maltesa, Martinica, Weird Barrel, BR Brew, Alquimia, Oráculo, Wolfes Bier, Pata da Onça, Experiência e Salles Bier.

De acordo com os consultores responsáveis pelo Polo Cervejeiro dentro da ACIRP (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), Rafaela Bricci e Paulo Nogueira, a união se dá através da convivência e da comunicação que as cervejarias mantêm, com reuniões periódicas em que são discutidas novas soluções conjuntas.

“A ideia de montar o Polo surgiu através de conversas de empresários que buscavam mostrar a cerveja artesanal para os consumidores. O grupo segue as orientações e a metodologia do Programa Empreender da ACIRP, que tem 20 anos de existência em Ribeirão Preto. Assim, foi possível se organizar e se fortalecer para buscar novos desafios”, explicam.

Para setembro está previsto o encontro do Craft Beer Ribeirão, evento onde, ocorrerão, paralelamente a 10ª edição do South Beer Cup, considerada a “Libertadores da América” das cervejarias independentes, e a 1ª Copa Paulista de Cerveja, com diversas palestras, concursos de cerveja, rodada de negócio, encontro dos APLs (Arranjo Produtivo Local) de cervejas do estado de São Paulo, além de muita bebida, comida e música. A ideia para o futuro, segundo os consultores, é um bar ou local permanente que reúna os rótulos de todos os membros do Polo Cervejeiro.