História à beira-mar
- Turismo
- outubro de 2021
Um dos mais importantes sítios arqueológicos da civilização maia, a mexicana Tulum, atrai turistas em busca de suas belezas naturais e sossego rústico
Observar as antigas ruínas da civilização maia e, ao mesmo tempo, ter como pano de fundo as praias de areia branquinha e as águas azul-esverdeadas do Mar do Caribe. Estar em Tulum, cidade litorânea do estado de Quintana Roo, na península de Yucatan, região sudeste do México, é conhecer um lugar especial, cheio de histórias e de belezas naturais. E tudo isso a apenas uma hora de viagem da ilustre Cancún.
Com pouco mais de 30 mil habitantes, o paraíso mexicano vem se desenvolvendo rápido, e se diferencia de outros destinos turísticos da região pelo jeito mais simples e rústico, sem grandes construções. Tulum integra a chamada Riviera Maya, área que, geograficamente, estende-se por 130 quilômetros, indo de Puerto Morelos, ao norte, até Punta Allen, no sul, e que foi impulsionada como região turística pelo governo mexicano a partir do fim da década de 1990.
Até pouco tempo, Tulum era uma cidade geralmente eleita para um bate-volta ou para uma rápida passagem de poucos dias, principalmente para quem tivesse como grande interesse outras praias mais famosas, como Cancún ou a vizinha Playa del Carmen, a somente 65 quilômetros de distância. Mas, nos últimos anos, isso vem se modificando. De pequena vila, moradia de pescadores e de pessoas que buscavam por sossego, o lugar se tornou descolado e badalado, e muito procurado pelo seu tom místico e “rústico-chique”. A cidade é dividida, basicamente, em duas áreas. Uma delas é a parte central, a chamada Tulum Pueblo, onde vivem os moradores. A outra área é onde estão a maior parte dos resorts, hotéis e restaurantes, ao longo da linha costeira.
Memórias da civilização Maia
Única grande cidade maia à beira-mar, estudos indicam que Tulum foi construída por volta do ano 1000 d.C, quando, provavelmente, outras cidades como Chichén Itzá, Palenque e Uxmal já estavam abandonadas, o que a torna um dos sítios arqueológicos maias mais recentes.
A cidade teve seu auge entre os séculos XII e XV, e sucumbiu após algumas décadas de ocupação espanhola, no século XVI. O significado da palavra “Tulum” seria grande muro, mas até a chegada dos europeus, o local era chamado de “Zamá”, que quer dizer manhã ou amanhecer, no idioma maia. A pequena cidade foi construída em cima de uma falésia, era fortificada e tinha essa curiosa localização, com boa visualização do mar à frente, porque servia como porto para embarcações. Suas velhas muralhas protegiam a cidade na parte interior da península, com altura de 3 a 5 metros e 8 metros de largura, enquanto, ao lado do mar, as altas escarpas faziam a proteção. Há cinco portas estreitas na muralha, duas no lado norte, duas no lado sul e uma no lado ocidental. Perto do trecho norte da muralha, há um pequeno cenote que abastecia a cidade de água doce.
Dentro da cidade murada, havia cerca de 50 edifícios religiosos, governamentais e residenciais. Tulum teve um papel predominante no comércio marítimo e terrestre, além de funcionar como sistema de defesa e observatório astronômico, este último um dos principais interesses da civilização maia.
É interessante que as visitas às ruínas da cidade mexicana sejam feitas na companhia de um guia local – alguns deles dominam o português –, que fazem a contextualização da história daquela civilização. O sítio arqueológico de Tulum é relativamente compacto, em comparação com outros sítios da civilização maia na região, e um dos melhores em questão de preservação. Este sítio arqueológico é o terceiro mais visitado do México, recebendo 2,2 milhões de visitantes anualmente.
Uma das principais ruínas maias de Tulum é a pirâmide El Castillo – em português, “O Castelo” –, localizada em um dos extremos do sítio e que funcionava como farol de navegação, além de ser o lugar onde os maias faziam sacrifícios em oferenda aos seus deuses. Com cerca de 7,5 metros de altura e protegido por um teto de vigas e argamassa, o edifício foi erguido em cima de uma antiga construção. O local possui um templo com três entradas decoradas com colunas serpentinas e duas máscaras zoomórficas nos cantos, e logo à frente, há uma plataforma para danças. A sudoeste de El Castillo, está o Templo de la Serie Inicial, onde foi encontrada a data mais antiga registrada em todo o complexo: 564 d.C.
Também muito visitado é o Templo del Dios Descendente, um edifício decorado com a imagem da referida divindade. Bem próximo está o Templo de los Frescos, uma das estruturas mais espetaculares de Tulum e com diversos murais que retratam seres sobrenaturais residentes no submundo. O templo é um dos mais icônicos da pintura mural maia pré-hispânica, e é dividido por duas galerias, uma inferior e uma superior, esta última um pouco menor. O edifício foi usado como observatório para registar os movimentos do sol.
Outro cartão-postal das ruínas de Tulum é o Templo del Dios del Viento. Localizada ao norte de El Castillo, essa construção está à beira-mar e seu nome vem do arredondamento de sua base sem cantos, associando-a ao deus maia do vento Kukulcán. Esse templo era utilizado para fins religiosos até a década de 1920.
Belezas naturais
Com mais de 20 quilômetros de praias contínuas e calmas, Tulum é a verdadeira imagem do paraíso. A linha costeira conta com praias públicas, abertas aos visitantes, e também os chamados beach clubs (clubes de praia). Esses são uma boa alternativa para curtir o mar, pois são poucos os trechos de praia aberta ao público em Tulum, já que a maior parte dos acessos está fechada por hotéis e propriedades privadas. Os beach clubs oferecem, além do acesso ao mar, ótima estrutura para quem quer passar o dia na beira da praia, com comida, bebida e até piscina.
Entre os clubes de praia mais conhecidos em Tulum e que valem uma visita estão os despojados Ahau Tulum e Ziggy’s Beach, o Coco Tulum, com seu grande deck de madeira e saborosos drinques da casa, o Papaya Playa Project e sua pista de dança que recebe grandes DJs internacionais, e o Nomade com diversos espaços e uma decoração aconchegante.
Dentre as praias públicas, a primeira da orla de Tulum é a Playa Paraíso. Não muito longe das ruínas, ela é quase uma continuação, sentido sul, da praia onde está a zona arqueológica da cidade. Eleita duas vezes como a melhor praia do México, ela não costuma ficar tão lotada. Em seguida, está a Playa Pescadores, de mar tranquilo e areia fofa e limpa. Da praia também saem diversos passeios de barco ao longo do dia para ver as piscinas naturais. Também bem próxima às ruínas de Tulum, está a Playa Santa Fé, local ideal para descanso e de ótima infraestrutura.
Outra grande atração natural deste paraíso caribenho são os cenotes, espécie de “piscinas” naturais abastecidas pelas águas de rios subterrâneos e que possuem as mais variadas formas. Há cenotes dentro de cavernas, outros ao ar livre, alguns com aparência de piscinas e outros que lembram mais um lago. Só na península de Yucatán são contabilizados mais de 10 mil cenotes.
Um dos cenotes mais populares da cidade é o Gran Cenote, com suas águas de tom azul-turquesa. Dentro de uma caverna, este cenote faz parte de um cenário muito bonito, além de possibilitar o aluguel de snorkel para mergulho. Também dentro de cavernas e muito utilizado para mergulho, os dois Cenote Dos Ojos são cercados por árvores e redes de descanso, perfeito para um dia de tranquilidade. Com quatro cenotes, a propriedade de Casa Tortugas é ótima para ser explorada em tours com a ajuda de guias. O passeio é tranquilo, indicado para quem gosta de nadar.
Outros cenotes da área que merecem uma visita são o Cenote Cavalera, a poucos quilômetros do centro de Tulum, o Aktun Ha (Carwash), na estrada em direção a Cobá e com uma área de mergulho de cinco metros de profundidade, o Casa Cenote (Cenote Manati), a apenas 500 metros do mar, rodeado de manguezais e com grande diversidade de fauna e flora, o Cenote Zacil-Ha, com profundidade entre 2,5 e 3 metros e águas cristalinas de jade verde, o Cenote Corazón, que como o próprio nome indica, tem uma semelhança com a forma de um coração, e, um pouco mais afastado, a 20 quilômetros de Tulum, está o magnífico Cenote Sac Actun, a maior rede de cavernas subaquáticas do mundo.
Localizada a 30 quilômetros de distância de Tulum, no roteiro não pode faltar uma visita à reserva biológica de Sian Ka’an. Patrimônio da Humanidade protegido pela UNESCO desde 1987, o local possui florestas tropicais, lagoas, área de mangue e um ecossistema que abriga mais de 300 tipos de aves, espalhados em mais de 500 hectares de área.
Como chegar: o aeroporto mais perto da cidade fica em Cancún, a cerca de 120 quilômetros de distância. Ao desembarcar em Cancún, é possível pegar um ônibus em direção a Tulum. O trajeto tem duração de cerca de duas horas.
Quando ir: a melhor temporada acontece entre dezembro e junho, período um pouco mais chuvoso, mas com a possibilidade de furacões quase descartada. Os meses de junho e julho são os mais quentes, embora a incidência de chuva seja maior.
Hospedagem: há locais para hospedagem nas duas áreas da cidade, mas a maioria das pousadas e hotéis estão ao longo da linha costeira de Tulum. Ao contrário de destinos como Cancún, em Tulum não há resorts enormes e os lugares são mais simples.
Gastronomia: o cardápio dos restaurantes em Tulum são uma fusão da gastronomia tradicional mexicana com a cozinha contemporânea e moderna, mas todos estabelecimentos com uma pegada praiana despojada.