Criativa e sustentável, moda circular prioriza peças existentes
Na contramão do fast fashion, a moda circular incentiva criatividade e originalidade a partir de peças reutilizadas, sejam elas recriadas ou não
Moda é muito mais que uma combinação de peças de roupa. A palavra vem do latim “modus” e significa, também, o modo ou a maneira de se conduzir; é, ainda, uma representação e uma identidade pessoal. Em meio aos simbolismos acerca do conceito, estudos apontam que, no século XV, os franceses utilizavam a palavra “mode” (modo) para se referir às preferências das pessoas, ao modo como se vestiam e às escolhas estéticas.
Desse modo, fica evidente que, desde sempre, o significado de “moda” é originalmente ligado a um conjunto de fatores íntimos, representativos e a um sistema de funcionamento social. Não é e nunca foi apenas a escolha do que vestir. Contudo, o consumo exacerbado da população, consequência de um mundo globalizado, afetou e muito o que as pessoas entendem por “moda”.
Em seu livro, “História da Moda – Uma Narrativa”, o professor João Braga afirma: “Hoje, o termo moda não está apenas ligado ao hábito de cobrir o corpo, pois implica também consequências mais amplas, por exemplo, o comportamento, as atitudes da vida e outros fatores sociais, culturais e políticos”.
A chegada do fast fashion
O cenário da moda sofreu expressivas mudanças a partir do fast fashion, que começou a nascer em 1970. Em geral, esse conceito consiste em uma produção larga escala de uma peça muito consumida – pertencente a coleções de alguma marca renomada. No entanto, dentro dessa categoria de rápida fabricação, a qualidade das roupas é inferior e, portanto, com menor durabilidade.
Desde 1990, quando o fast fashion tomou ainda mais força, a “moda rápida” conquistou espaço no mercado mundial para acompanhar a aceleração da sociedade e o alto consumo da população. Vale lembrar que é inegável como o preço dessas peças são mais atrativos, fazendo com que mais pessoas tenham (e queiram ter) acesso aos produtos.
Há, ainda, a questão do meio ambiente relacionada às peças fast fashion, que geram 400% mais emissões de carbono, além do desmatamento, uso de fertilizantes e agrotóxicos, extração de petróleo, entre outras formas de poluição, que são frutos dessa prática de produção. Atualmente, inclusive, a indústria têxtil é um dos três setores que mais polui no mundo, sendo responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera, ficando atrás apenas do setor petrolífero.
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E a moda circular?
Nos últimos anos, as pautas sustentáveis e os projetos que prezam pelo meio ambiente ganharam os holofotes, e a população passou a reconsiderar algumas práticas prejudiciais ao planeta, inclusive no setor têxtil. Visando mais sustentabilidade, alguns movimentos e projetos surgiram em contramão à moda rápida.
Iniciativas, como a da moda circular, buscam conscientizar os consumidores quanto às escolhas e aos impactos socioambientais. Incentivando uma nova maneira de consumir, que combina expressão, identidade e consciência, movimentos sustentáveis podem fazer com que os consumidores modifiquem os comportamentos em relação às compras e ao descarte.
Em meio a essas perspectivas, a moda circular passou a ser cada vez mais abraçada. O conceito é semelhante à proposta da economia circular, baseando-se nos mesmos princípios fundamentais de um consumo mais eficiente, que apoia o desenvolvimento sustentável.
Totalmente no sentido oposto do sistema linear, que extrai matéria-prima da natureza, produz bens, vende e, depois, descarta, a ideia de “circular” propõe a redução, a reutilização, a recuperação, e a reciclagem de materiais e energia. No livro “The Guide to the Circular Economy” (“O guia para a economia circular”, em tradução livre), Dustin Benton, Jonny Hazell, Julie Hill afirmam que a moda circular traz um sistema de produção em que os recursos não são descartados e desvalorizados.
Com o modo de processo slow fashion, criado em 2004, tem-se acesso a uma alternativa socioambiental sustentável, que defende a valorização dos recursos e a mão de obra local. Assim, algumas marcas, projetos e empresas optam por iniciativas de moda circular com produção de baixa escala, mantendo a qualidade dos produtos e garantindo transparência em relação à origem dos itens e às condições de trabalho.
Há, dentro desse conceito, portanto, um enorme propósito de diminuir os impactos ambientais causados por descartes incorretos e precoces. Sob essa perspectiva circular, as peças seguem integrando a cadeia produtiva e são reutilizadas ao máximo em seu ciclo de vida, prezando pelo futuro do ecossistema.
De modo geral, as iniciativas buscam ser um projeto mais transparente e ético com as relações sociais e com o meio ambiente, incentivando a diminuição da extração de recursos, da poluição, da exploração no trabalho e do consumo desenfreado.
Originalidade e criatividade
Não apenas reaproveitar e reciclar, a moda circular também incentiva que esses itens sejam recriados ou, até mesmo, transformados em uma nova peça. Com isso, além de sustentável, a roupa se torna mais original e criativa e, em toda a sua proposta, esse conceito confere singularidade e identidade.
Vale lembrar, inclusive, que os brechós, devido à ideia de reutilização de roupas para evitar o descarte precoce ou incorreto, também se encaixam nessa proposta circular e de reciclagem.