Saiba tudo sobre a Copa do Mundo Feminina
Se durante anos o futebol feminino no Brasil foi deixado de lado, em 2023 a modalidade está no centro dos holofotes em uma edição histórica da Copa do Mundo Feminina
Brincar de bola no campo do bairro com as amigas, jogar em um estádio lotado com a vibração da torcida… Nada mais natural que as meninas tenham esse desejo vivendo em um lugar que é conhecido como país do futebol. Por muito tempo, a prática do esporte pelas mulheres foi marginalizada e profissionalmente negligenciada.
O cenário mudou ao longo dos anos, e agora a seleção brasileira vai para a Copa do Mundo Feminina no melhor momento do esporte no país.
Sediada pela Austrália e Nova Zelândia, a Copa do Mundo de Futebol Feminino acontece entre os dias 20 de julho e 20 de agosto, sendo a 9ª edição do evento. Pela primeira vez, o torneio vai ser realizado em dois países ao mesmo tempo, e também é a primeira edição que acontecerá na Oceania.
No Brasil
Oficialmente, a primeira partida de futebol feminino no Brasil aconteceu em 1921. Depois de o esporte ser proibido no país por mais de 40 anos (a partir de 1941), as primeiras equipes oficiais surgiram Na década de 1980.
Um dos primeiros times profissionais foi o Esporte Clube Radar, fundado em 1983. Durante os anos seguintes, ele dominou o cenário do futebol feminino.
Já os clubes que eram tradicionais na modalidade masculina passaram a investir em equipes femininas a partir da década seguinte. Nesse contexto, os pioneiros foram os paulistas Santos e São Paulo.
Rumo ao reconhecimento
Se, em 1999, a Seleção Feminina Brasileira de Futebol teve que jogar utilizando uniformes de partida masculinos, porque não tinham os seus próprios, para a Copa do Mundo Feminina deste ano, as meninas, pela primeira vez, terão roupas de viagem exclusivas para o momento, algo inédito. Isso demonstra como as coisas mudaram.
Mulheres jogando bola no Brasil geraram controvérsia por muito tempo. O futebol feminino chegou a ser proibido no começo do século XX em vários países, como Reino Unido, Alemanha, entre outros. Por aqui, a proibição aconteceu em 1941, durante o governo de Getúlio Vargas, e só foi revogada em 1979. A modalidade foi regulamentada em 1983.
Mesmo quando já não era mais proibido, o preconceito e também a negligência com a modalidade profissional tornavam a prática difícil e sem destaque por muito tempo no país.
Ainda assim, as mulheres conquistaram grandes resultados, como o vice-campeonato na Copa do Mundo da Alemanha, em 2007.
Ao longo dos anos, apesar da falta de investimento, o talento fez com que grandes nomes se destacassem, como Formiga, a jogadora que participou de mais partidas pela seleção, Cristiane e Marta, eleita seis vezes a melhor do mundo e considerada a rainha do futebol brasileiro.
Nova fase
Junto de uma crescente no futebol feminino brasileiro nos últimos anos, uma série de novos nomes surgiram. Além de Bia Zaneratto, podemos destacar nomes como Tamires, Rafaelle e a maranhense Ary Borges, meio-campista da seleção brasileira e do Racing Louisville FC, que foi destaque no Brasil pelo Palmeiras na temporada passada e se consolidou na seleção sob o comanda da técnica sueca Pia Sundhage.
Sobre seu momento na carreira, Ary enfatiza: “É um dos melhores momentos da minha carreira em geral, não só da seleção. O meu último ano foi muito bom no Palmeiras, [pois] conquistamos dois títulos importantes e, agora nos Estados Unidos, em uma liga muito mais forte, em um nível de intensidade muito alta, o que tem agregado muito para a minha carreira”.
Desde 2019, a Conmebol estabeleceu que, para os clubes masculinos participarem de suas competições, eles devem ter uma equipe feminina. A medida foi um dos fatores que ajudaram a impulsionar a modalidade nos últimos anos, além de uma maior (ainda que moderada) atenção da mídia.
“Isso fez com que atraísse mais gente, que as pessoas ligassem a TV e vissem um Palmeiras e Corinthians, um Palmeiras e São Paulo, o que antes não era possível, porque os times não tinham o futebol feminino. Isso fez com que a modalidade se tornasse mais atrativa e também fez com que atletas que jogavam fora do país viessem jogar no Brasil, por serem clubes de camisa, com um peso muito maior”, diz a meio-campista Ary Borges.
Edição de 2023 da Copa do Mundo Feminina
Trinta e duas seleções passarão pela Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia. O mundo estará de olho em nomes como Megan Rapinoe, Alex Morgan e Alexia Putellas, enquanto no Brasil se destacam Marta, que pode disputar sua última edição, e a jovem Bia Zanerato.
Maiores campeãs de todos os tempos, a seleção dos Estados Unidos é a grande favorita a ganhar o torneio, mas também se destacam equipes como: Inglaterra, Alemanha, Suécia, Espanha e Canadá.
Comandado pela técnica Pia Sundhage, o Brasil está no grupo F e estreia contra o Panamá no dia 24 de julho. Um confronto de destaque é contra a França, uma das favoritas da competição.
Ary Borges fala sobre a oportunidade de atuar pelo Brasil em uma Copa do Mundo: “Estou muito feliz em poder participar de um campeonato tão importante para a modalidade, que traz um desenvolvimento muito grande para o futebol feminino. É a realização de um sonho. Acho que todo mundo que defende seu país sonha em jogar uma Copa do Mundo”, comenta a meio-campista.
Histórica, essa edição distribuirá cerca de 152 milhões de dólares em premiações. A equipe campeã levará 4,2 milhões de dólares para casa, e todas as jogadoras que participarem receberão alguma quantia em premiação. Com transmissão em mais de 150 países, a previsão é de que haja mais de 2 bilhões de espectadores.
No Brasil, a competição vai ser transmitida na TV aberta pela Rede Globo, pelo canal a cabo SporTV, pelo Ge.com e por streaming através do Globoplay e do canal do YouTube Cazé TV.
Convocadas do Brasil
Goleiras: Letícia Izidoro (Corinthians), Bárbara (Flamengo) e Camila Rodrigues (Santos)
Laterais: Antônia (Levante), Bruninha (Gotham FC) e Tamires (Corinthians)
Zagueiras: Kathellen (Real Madrid), Lauren (Madrid FC), Mônica Hickman (Madri CFF) e Rafaelle (Arsenal)
Meio-campistas: Adriana (Orlando Pride), Ary Borges (Racing Louisville FC), Duda Sampaio (Corinthians), Andressa Alves (Roma), Luana (Corinthians) e Ana Vitória (Benfica).
Atacantes: Bia Zanerato (Palmeiras), Debinha (Kansas City Current), Geyse (Barcelona), Kerolin (North Carolina Courage), Nicole (Benfica), Gabi Nunes (Madri CFF) e Marta (Orlando Pride).